quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Wabi Sabi - José Carlos Carturan


Wabi Sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível para o português.
De maneira mais concreta, wabi sabi é um jeito de “ver” as coisas através de uma ótica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade.Diz-se que este conceito surgiu por volta do século XV, quando um jovem chamado Sen no Rikyu queria aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá e foi procurar o grande mestre Takeno Joo.

Para testar o rapaz, o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu lançou-se ao trabalho feliz. Limpou o jardim e ao terminar, examinou cuidadosamente o que tinha feito: o jardim perfeito, impecável, cada centímetro varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas ajeitadas e na mais perfeita ordem.

Contudo, antes de apresentar o resultado ao mestre, Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam displicentes pelo chão. Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu virou um grande Mestre do Chá e desde então é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de wabi sabi: a arte da imperfeição. É a mesma premissa adotada em relação aos tapetes persas
que sempre tem um pequeno defeito, apenas para lembrar a quem olha, de que só Deus é perfeito.

Esta expressão, wabi sabi, teria muita utilidade se utilizada em nosso dia a dia. Em um contexto de exigência, cobranças e críticas que temos em relação a nós mesmos e aos outros seria um alento se conseguíssemos desenvolver tal maneira de ver as coisas. Esta busca demasiada e sem critérios pela perfeição advém de uma necessidade de adequação a padrões impostos pela sociedade ou por nós mesmos.

O desejo de acertar sempre, a necessidade de estar no controle aumenta a ansiedade e nos impede de evoluir. Há sim beleza e virtude nas coisas imperfeitas, desde que vistas através de uma ótica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade.

Quantas pessoas passam uma boa parte do tempo sofrendo porque não se sentem adequadas a determinado contexto? Quantos se torturam por não estar enquadrados em certo padrão de beleza? Quantos sofrem preconceitos porque não são exatamente aquilo que é considerado certo ser?

Os reflexos disto podem ser sentidos também nas relações humanas, onde expectativas quase irreais são depositadas nos ombros das pessoas e estas sentem-se obrigadas a cumpri-las e os resultados são quase sempre conflitos, sofrimento, frustração, ansiedade e estresse.

Os mestres orientais, com a cultura inspirada nos ensinamentos do taoísmo e do zen budismo perceberam que a ação humana sobre o mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar.

E a natureza é que tudo percorra seu ciclo de nascimento, desenvolvimento e morte, já que todas as coisas são impermanentes, imperfeitas e incompletas. E se não fosse assim, se não fôssemos imperfeitos e tivéssemos a chance de evoluir e melhorar que sentido teria a vida, que é feita de tantas coisas não convencionais?

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