segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Falsos dilemas - José Carlos Carturan




Que bom seria se o universo fosse tão simples como certas pessoas o fazem parecer. Simplesmente reduzimos questões complexas a questões díspares, opostas, como se estivéssemos o tempo todo restritos a falsos dilemas. Talvez este péssimo hábito seja uma herança da lógica cartesiana ou de uma estrutura social em que temos de nos adequar de uma maneira ‘X’, ou então de maneira contrária a esta maneira ‘X’.

Não é de se espantar que uma das frases mais famosas da história da literatura mundial, a famosa: “Ser ou não ser? Eis a questão”, da obra ‘Hamlet’ de William Shakespeare, seja talvez a representação mais célebre destes falsos dilemas que nos impomos a todo instante. Precisamos sempre ser OU não ser. Mas, porque jamais temos a opção de ser E não ser?

Normalmente rotulamos e somos taxados pelas pessoas como: altos ou baixos, bons ou maus, grandes ou pequenos, gordos ou magros, ricos ou pobres, isto ou aquilo. O fato é que quando reduzimos a questão em rótulos, categorias, opiniões que podem nos levar a caminhos aparentemente opostos, estamos ilusoriamente buscando facilitar situações que nem sempre se resumem à simples escolhas.

Esquecemos que entre em tons contrastantes de preto e branco temos infinitas matizes de tons de cinza. E o pior: Não percebemos que estes tons de cinza são fruto da mistura destas nuances de preto e branco. Às vezes muito escuros, outras vezes mais claros.
Infelizmente estamos sempre tendo de nos posicionar de um lado ou de outro, sendo que há entre o ‘sim absoluto’ e o ‘não absoluto’ uma infindável rede de opções e alternativas a serem consideradas antes de uma escolha ou um posicionamento definitivo. Digo infelizmente, porque quando resumimos as situações desta forma automaticamente estamos ‘afunilando’ nosso ponto de vista e nos privando de conhecer diversos outras possibilidades situadas entre um extremo e outro.

Seja em discussões, debates ou em uma cotidiana opção entre uma coisa e outra, jamais uma verdade, uma escolha estará totalmente correta e a outra totalmente equivocada. Há sempre pontos benéficos em ambos os posicionamentos, e quando cerceamos a nós ou aos outros da chance de perceber o que há em comum entre os opostos, estamos limitando o aprendizado.

E este é o ponto relevante. Não apenas há normalmente mais opções do que as que são opostas entre si, como há um caminho intermediário entre elas, o Caminho do Meio. Há simplesmente o dia e a noite? Ou na intersecção existente entre eles há também a aurora e o crepúsculo, quando dia e noite praticamente ‘misturam-se’?

Evite cair na armadilha dos falsos dilemas. Desde os que são simples, até os que são importantes. Ao reduzirmos questões complexas a alternativas diametralmente opostas, não apenas tornamos limitada nossa capacidade de entendimento, como corremos sério risco de nos tornarmos radicais, fanáticos e colaborar para uma realidade com base em conflitos e divergências onde o consenso e o equilíbrio ficam cada vez mais distantes.

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