terça-feira, 7 de maio de 2013

Máscaras e disfarces - José Carlos Carturan



Confesso que certas coisas me incomodam um bocado. É inegável que a busca constante pelo desenvolvimento é algo fascinante, mas traz um ônus complicado de lidar. A tendência natural é ficarmos mais perceptivos e isso às vezes faz que não aceitemos qualquer coisa goela abaixo.

De minha parte um dos maiores desafios têm sido não me tornar uma ‘personagem de mim mesmo’ ou uma ‘personagem que foi sendo escrito para mim pelas pessoas que compõem o enredo da minha vida’. Procuro me policiar constantemente para que não vire uma caricatura de quem realmente sou e procuro não cair na armadilha muitas vezes irreversível de tornar-me um fantoche que quer sempre agradar aos outros. Sem nenhum tom de arrogância ou presunção, digo: Sou o que sou. Constantemente em busca de melhoria, justamente por estar ciente de minhas inúmeras, infindáveis e constantes imperfeições.

Em meu trabalho, com meus amigos, com minha família, sou o que sou. E ainda que cada um de acordo com sua ótica e sua essência me veja de uma maneira diferente, para mim continuo sendo o que sou. Com as vantagens e desvantagens que isto traz. Não se trata de falta de flexibilidade, mas sim em prezar por alguns valores e virtudes cardeais e principalmente ser transparente em demonstrá-los.

Por bom senso procuro aliar a isto certa polidez e tolerância, mas não se engane. Este perfil pacificador e diplomático tem um limite bem definido por valores éticos e morais. Daí por diante se este limite for ultrapassado, como bom ariano que sou as coisas tomam outro rumo.

O paradoxo é que enquanto arduamente luto para não tornar-me um rascunho de mim mesmo, me deparo com pessoas que se esforçam exatamente para conseguir o contrário. São a reprodução mecânica e robotizada daquilo que as pessoas querem encontrar nelas. Sem obviamente entrar no âmbito psicopatológico da questão, essas pessoas criam algo como uma ‘personalidade paralela’ e escondem-se sob um véu ou aura cuidadosamente alicerçada em palavras, gestos e ações que fortalecem a imagem que elas querem que os demais tenham delas. Isto pode até ser conveniente, mas o fardo de viver sendo quem não se é de verdade deve ser grande demais.

O fato é que após algum tempo vivendo debaixo de uma máscara, vestindo um disfarce criteriosamente moldado, só há dois desfechos. O primeiro, que beira a insanidade é realmente acreditar que se é a figura que criou, fundindo criador e criatura em uma personalidade vazia e ambígua. E o segundo é quando nas situações limite, não as de cunho emocional quando todos nós estamos sujeitos a reações desproporcionais, mas sim quando princípios e valores são questionados e deve haver um posicionamento. Aí a máscara acaba caindo, mesmo porque, não se consegue sustentar indefinidamente uma fraude.

O ruim é que ainda há algumas pessoas que não sei quem são. Não sei se são elas mesmas ou alguém que criaram. E é muito ruim lidar com pessoas assim. No meu caso, basta olhar bem fundo nos meus olhos. Gostando ou não do que vai encontrar, lá estará estampada a imagem cristalina de quem eu sou.

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