segunda-feira, 1 de abril de 2013

Seres complexos - José Carlos Carturan



Não adianta fazer de conta que é todo organizado, que é totalmente ciente das decisões que toma e ficar zangado quando algo não sai muito bem como você planejava. Somos únicos em nossas virtudes, defeitos e elucubrações. E percebemos as coisas ao nosso redor de modo extremamente particular. E ponto.

Para complicar só mais um pouquinho, apesar de sermos fisicamente concretos, somos seres totalmente abstratos, moldados por meio de conceitos familiares, educacionais e religiosos do certo e do errado, com base em idéias e lógicas oriundas de gerações passadas. Isto já seria preocupante, mas a dimensão deste equívoco no processo de estruturação da personalidade humana é muito maior. Tentam nos criar de forma lógica, mas somos essencialmente emocionais.

Isto gera um ‘colapso interno’. Nos deparamos constantemente com sentimentos e pensamentos que depõem contra o nosso sistema de crenças, ou aquilo que aprendemos a achar que é o correto. Sentimos raiva de alguém e em uma fração de segundos, lá está o nosso sistema de crenças dizendo que “é feio sentir raiva”.

O resultado? Conflito. Afinal penso e sinto algo que aprendi que é errado, que é desaprovado pela ‘moral e os bons costumes’. E isto gera culpa. E a primeira coisa que fazemos é tentar sufocar este pensamento ou sentimento, sem nos questionar o que aquilo quer nos mostrar.

Contudo, o que ‘não queremos olhar, ganha uma força extra’. Se você já fez regime e neste período encontrou ‘pelo caminho’ um brigadeiro ou uma lasanha entende o que estou falando. Talvez tenhamos de admitir que somos tão instintivos quanto nossos ancestrais. Ou será que nunca fez ou disse algo por impulso, tomado pela emoção, seja ela qual for?
A verdade é que somos seres complexos, repletos de pontos cegos, ângulos escondidos e sentimentos inconfessáveis, difíceis de admitir conscientemente. Somos a eterna batalha entre instintos e princípios, diversas faces de um mesmo personagem. Somos diferentes dilemas de nós mesmos, incomodados pela dificuldade imensa em determinar onde termina a nossa busca do prazer e começa a fuga da dor.

Somos vítimas de um poderoso algoz interno que, por fazer parte de nosso eu, e saber exatamente em que acreditamos age de forma impiedosa e cruel, procurando esconder nossas feridas e cicatrizes, mas para isto deixando expostas nossas maiores fraquezas e receios.

Somos a imensa distância entre o enredo que idealizam para nós e o espetáculo que estamos dispostos a encenar. Podemos em fração de segundos passar de indefesos cordeiros a astutas raposas. Podemos ser ao mesmo tempo a síntese e a antítese, porque simplesmente somos assim, brutos contrastes entre os aprendizados passados, anseios futuros e um fugaz presente.

Jung já afirmava que ‘somos muito mais do que o uno que imaginamos ser’. E todo este contexto está, para o bem ou para o mal, atrelado ao nosso arraigado sistema de crenças. A pergunta é: Em que você acredita? Isto é o mundo real ou a forma pela qual você escolheu interpretá-lo? Saber isto pode ser determinante para que você consiga aquilo que quer e principalmente pare de sofrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário